O que é a Artrose na Coluna?
Também chamada de Espondilose, Espondiloartrose ou Espondilodiscoartrose, trata-se de um termo usado genericamente para diversos tipos de desgastes na coluna vertebral como envelhecimento dos discos e das articulações intervertebrais (articulações interfacetárias) e que pode acometer a maioria das pessoas ao longo da vida. Descreveremos brevemente as causas, sintomas, diagnóstico e princípios do tratamento da artrose na coluna.
Como falado, a artrose na coluna é caracterizada pela degeneração dos discos intervertebrais e das articulações facetárias, que são estruturas essenciais para a mobilidade e a transmissão de forças entre as vértebras. Com o envelhecimento essas estruturas sofrem desgaste levando à formação de osteófitos (esporões ósseos) que podem comprometer o diâmetro do canal espinhal (canal por onde passa a medula espinhal), resultando em mielopatia. Além disso, também pode acontecer a diminuição dos forames intervertebrais (canais por onde passam os nervos) levando a sintomas chamados de radiculopatia devido à compressão das raízes nervosas.
Qual a idade mais comum para o aparecimento da Artrose na Coluna?
O desgaste e degeneração da coluna pode acontecer em diferentes faixas etárias, porém é mais comum entre os idosos. Todos os segmentos da coluna (cervical, dorsal ou coluna lombar) podem desgastar e, para cada um deles, são esperados sintomas diferentes. A degeneração da coluna também pode acontecer precocemente por outras causas como doenças inflamatórias, traumatismos e cargas excessivas repetitivas. Além disso, fatores como o uso excessivo e errado da coluna podem acelerar a progressão da espondilose, como demonstrado em estudos experimentais que indicam que movimentos repetitivos podem levar a alterações estruturais mais rápidas, como a formação precoce de osteófitos. A compreensão detalhada da biomecânica, patologia, apresentação clínica e avaliação radiológica da espondilose é crucial para o manejo adequado dos pacientes afetados por essa condição.
Quais estruturas da coluna podem gerar artrose?
A espondilose (Artrose da Coluna) é uma condição degenerativa que afeta várias estruturas da coluna vertebral. De acordo com a literatura médica, as principais estruturas envolvidas são os discos intervertebrais, as articulações facetárias, os corpos vertebrais e os ligamentos associados.
1. Discos Intervertebrais: A degeneração dos discos intervertebrais é um componente central da espondilose. O desgaste do disco intervertebral se inicia com a perda de líquido do seu interior (desidratação discal) que gera menor elasticidade e, consequentemente, o torna mais frágil e vulnerável a lesões. Com o envelhecimento, os discos podem perder altura e elasticidade, levando a uma diminuição da capacidade de absorção de choque e a uma maior carga sobre as articulações facetárias.
2. Articulações Facetárias: As articulações facetárias (articulações zigoapofisárias), também sofrem alterações degenerativas, como a formação de osteófitos e a esclerose subcondral. Elas passam a ser sobrecarregadas, de modo que se inicia processo inflamatório local, com inflamação articular (sinovite). Essas articulações são revestidas por uma fina cartilagem, que é lisa quando está saudável e permite assim um deslizar harmônico de uma vértebra sobre a outra. Porém, o desgaste articular leva a um aumento de atrito entre elas, podendo resultar em infamação e dor, estalos, limitação de movimento, sensação de “areia nas articulações” e instabilidade do segmento.
3. Corpos Vertebrais: A formação de osteófitos (pontes ósseas, osso recém-formado) nos corpos vertebrais é uma característica comum da espondilose. Esses osteófitos podem levar à rigidez da coluna e, em alguns casos, à compressão de estruturas nervosas que estejam próximas a essas estruturas ósseas.
4. Ligamentos: Os ligamentos da coluna, como o ligamento longitudinal posterior e o ligamento flavum (amarelo), podem sofrer redundância, hipertrofia e calcificação, contribuindo para o estreitamento do canal espinhal e potencialmente levando à estenose espinhal (diminuição do tamanho do canal espinhal).
Quem pode ter artrose na coluna?
A espondilose é uma condição degenerativa que pode afetar qualquer pessoa, mas a probabilidade de seu aparecimento e diagnóstico aumenta com a idade. É mais comum em adultos mais velhos devido ao desgaste natural das estruturas da coluna vertebral ao longo do tempo. No entanto, fatores genéticos, ocupacionais e de estilo de vida também podem influenciar o desenvolvimento da espondilose.
Indivíduos que realizam atividades que envolvem movimentos repetitivos ou levantamento de peso podem ter um risco aumentado. Além disso, condições como a espondilólise, que é uma fratura de estresse na pars interarticularis das vértebras, podem ser mais comuns em atletas jovens devido ao estresse mecânico repetitivo.
A espondilose também pode ser observada em pacientes com esclerose múltipla, possivelmente devido a alterações posturais e espasticidade. Assim, enquanto a espondilose é frequentemente associada ao envelhecimento, outros fatores como genética, ocupação e condições médicas subjacentes também desempenham um papel significativo em seu desenvolvimento.
Outros fatores de risco incluem:
- Permanecer sentado por longos períodos na mesma posição.
- Sobrepeso e baixa massa muscular. Tabagismo.
- Movimentação repetitiva da coluna, principalmente em flexão ou torção, seja para desempenhar um trabalho, esporte ou hobbies.
Quais os sintomas da Artrose na Coluna?
Os sintomas variam dependendo da localização e da gravidade da degeneração. No caso da espondilose na coluna cervical, os sintomas podem incluir dor no pescoço, rigidez, dor de cabeça, e, em casos mais graves, radiculopatia e mielopatia. A radiculopatia cervical pode manifestar-se como dor irradiada para os ombros, braços ou mãos, acompanhada de fraqueza muscular, dormência, sensação de queimação ou formigamento. A mielopatia cervical, que ocorre devido à compressão da medula espinhal, pode resultar em sintomas como dificuldade para caminhar, perda de coordenação. Principais sintomas na espondilose cervical:
- Dor perto ou entre as escápulas.
- Dor que irradia para o ombro, braço e, às vezes, mão e dedos.
- Dor no pescoço, especialmente nas costas e nas laterais do pescoço.
- Dor que aumenta ao lateralizar ou fazer a rotação do pescoço.
- Dormência ou formigamento nos braços.
- Fraqueza muscular nos braços e mãos.
A espondilose lombar, por outro lado, pode causar dor lombar, rigidez, e, em casos de estenose espinhal, sintomas como claudicação neurogênica, dor irradiada para as pernas, e fraqueza muscular. É importante notar que a apresentação clínica pode variar amplamente entre os indivíduos, e o diagnóstico geralmente requer uma combinação de avaliação clínica e exames de imagem para determinar a extensão da degeneração e a presença de compressão neural. Principais sintomas da espondilose lombar:
- Dor lombar, lombalgia.
- Formigamento ou dormência nas pernas e/ou pés, parestesia.
- Fraqueza muscular, paresia.
- Mais raro são as alterações esfincterianas (alterações urinárias e fecais).
Quais as principais causas de Artrose na Coluna?
2. Envelhecimento e Alterações Moleculares: O envelhecimento está associado à acumulação de danos em organelas celulares e macromoléculas, levando à morte celular e senescência, o que diminui a capacidade regenerativa dos tecidos da coluna.
3. Predisposição genética: algumas pessoas têm histórico familiar de doenças degenerativas da coluna, tendo diagnóstico em idade mais precoce.
4. Traumatismos na coluna: fraturas com desalinhamento da coluna e lesões de cartilagem, por exemplo, aumentam o risco de desenvolver desgaste prematuro da coluna.
5. Excesso de peso: sobrepeso e obesidade, associado a fraqueza muscular levam a sobrecarga mecânica na coluna e desgaste precoce e acelerado.
6. Tabagismo: a substância nicotina acelera a degeneração do disco intervertebral podendo iniciar pela desidratação do disco, considerada por alguns como o marco inicial da cascata degenerativa da coluna.
7. Esforços repetitivos: principalmente envolvendo carga e de maneira errada para a coluna, como executado por trabalhadores braçais.
8. Doenças inflamatórias / reumatológicas: algumas doenças como artrite reumatoide ou espondilite anquilosante causam destruição articular precoce, sendo causas da espondiloartrose.

Quais exames devo fazer para diagnosticar a Artrose da Coluna?
- Seu médico deverá fará um exame físico neurológico completo. Durante o exame, serão avaliados principalmente: dor, reflexos musculotendíneos, sensibilidade, marcha e força muscular. Dentre os exames de imagem, poderão ser solicitados testes como:
Ressonância magnética (RM): O exame de imagem mais preciso para avaliação dos discos intervertebrais, partes moles e estruturas nervosas é a ressonância magnética. - Raios-X: raios-X ajudam a diagnosticar as alterações ósseas da Espondilose.
- Tomografia computadorizada (TC): tomografia computadorizada mostra os ossos da coluna e suas relações anatômicas.
Esses métodos de diagnóstico são frequentemente utilizados em conjunto para fornecer uma avaliação abrangente da condição do paciente e para diferenciar a espondilose de outras condições que podem apresentar sintomas semelhantes.
Quando procurar atendimento médico neurocirúrgico?
Um neurocirurgião deverá ser consultado se:
- A dor interfere nas atividades do dia a dia, por exemplo no trabalho, atividades de lazer e atividades sociais.
- Os sintomas pioram com o passar do tempo.
- Alteração de esfíncteres (bexiga e intestino).
- Aparecimento de formigamento, dormência, queimação, choque ou perda de força nos braços, mãos, pernas ou pés.
- Dificuldade para ficar em pé ou andar.
- Alteração de força nos membros superiores ou inferiores
Em caso de dúvida quanto aos sintomas é sempre recomendável procurar ajuda médica especializada.
Quais os tratamentos disponíveis para a Artrose na Coluna?
A maior parte do casos de espondiloartrose são tratados sem cirurgia. Alguns tratamentos podem ser utilizados de acordo com a avaliação e prescrição de um especialista, seguem alguns deles:
- Medicação: podem ser prescritos analgésicos comuns e opióides, anti-inflamatórios, relaxantes musculares, adesivos, neuromoduladores, antidepressivos para dor crônica.
- Fisioterapia: a fisioterapia elabora um programa de exercícios para ajudar a aliviar a pressão sobre os nervos, envolvendo controle de postura, fortalecimento muscular, analgesia, treino de marcha, preservação de amplitude de movimento, dentre outros.
- Hidroterapia: é a terapia física realizada no ambiente aquático, tem objetivos semelhantes aos da fisioterapia terrestre, contribuindo ainda mais para melhorar o condicionamento cardiovascular.
- Injeções espinhais: chamada também de bloqueio epidural ou nervoso, uma injeção espinhal é a introdução de medicação esteroide anti-inflamatória diretamente na coluna. A medicação reduz o edema e a inflamação do nervo comprimido pelo desgaste das estruturas da coluna. Isso atua diretamente no alívio da dor, permitindo a realização de atividade física.
- Acupuntura: a acupuntura na espondilose auxilia o paciente para a melhora dos sintomas dolorosos, principalmente a médio e longo prazo.
- Cirurgia: em determinados pacientes pode ser necessário algum tipo de cirurgia para o tratamento da espondilose. Para casos não emergenciais a cirurgia é uma opção quando os outros tratamentos falham. Existem várias modalidades de cirurgias para tratamento dos diversos tipos de espondilose e descompressão dos nervos e da medula, sendo os principais objetivos aliviar a compressão sobre o tecido nervoso e restaurar o equilíbrio da coluna vertebral. Um neurocirurgião deve ser sempre consultado.
Quais os tratamentos cirúrgicos disponíveis para a Artrose da Coluna?
Caso os tratamentos conservadores (não cirúrgicos) não aliviarem os sintomas do paciente um especialista pode recomendar o tratamento por cirurgia. Existem várias técnicas cirúrgicas e tipos de cirurgia para o tratamento de espondilose, como:
- Microdiscectomia: consiste em retirar um fragmento de disco herniado/degenerado, que esteja comprimindo alguma estrutura nervosa, com auxílio de algum aparelho óptico, como lupas cirúrgicas ou microscópios.
- Discectomia endoscópica: consiste em retirar um fragmento de disco herniado/degenerado e/ou retirar fragmentos de osso e ligamentos com auxílio de um endoscópio, também pode ser usado para aumentar o espaço do canal vertebral e do forâmen acometido

- Laminectomia / Laminoplastia: remover e/ou remodelar estruturas ósseas para expandir o canal vertebral.
- Foraminotomia: para remover estruturas ósseas e expandir o forâmen vertebral acometido.
- Fusão ou artrodese espinhal: a artrodese atua diretamente para unir duas ou mais vértebras e assim propiciar uma maior estabilidade ao segmento acometido. Para substituir um disco intervertebral degenerado pode-se usar uma prótese, que permite restaurar a altura do nível acometido. Essas próteses podem ser colocadas por via anterior na região cervical e por vias anterior, lateral e posterior na região lombar. Essas próteses são chamadas de “cages”, e quando são heterólogos (de material não ósseo) podem ser fabricadas em diversos materiais. Além dos cages podem ser usados diversos materiais para promover o adequado alinhamento da coluna, como parafusos, ganchos, bandas, hastes longitudinais e transversais.
É importante notar que, embora existam várias opções de tratamento, a escolha deve ser individualizada com base na apresentação clínica do paciente, na gravidade dos sintomas e na resposta ao tratamento inicial.
Como prevenir ou retardar a Artrose da Coluna?
Nem sempre é possível prevenir a Espondilose, mas há como reduzir o risco:
- Usar técnicas de elevação adequadas. Não faça flexão exagerada do quadril. Dobre os joelhos mantendo as costas retas. Use seus músculos das pernas, coxas e glúteos para ajudar a suportar uma eventual carga
– Manter um peso adequado. O excesso de peso exige mais dos elementos da coluna, levando a um desgaste mais rápido. Também o excesso de gordura corporal pode fazer com que haja depósito gorduroso por entre as fibras musculares, levando a flacidez.
– Praticar uma boa postura. Aprenda a melhorar a postura ao andar, sentar-se, ficar de pé e dormir. Uma boa postura reduz a tensão na coluna.
- Alongamento. É especialmente importante fazer pausas para se alongar se você costuma ficar sentado por longos períodos.
- Evitar o uso de sapatos de salto alto. Esse tipo de sapato tende a deixar a coluna desalinhada.
- Exercite-se regularmente. Concentre-se em exercícios que fortaleçam os músculos das costas e do abdômen, core abdominal, para ajudar a dar suporte para a coluna.
- Parar de fumar. Fumar pode enfraquecer os discos intervertebrais, tornando-os vulneráveis à ruptura. Considere parar de fumar.
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