Dor no pescoço ou cervicalgia.

O que é a cervicalgia ou dor no pescoço?

A dor no pescoço, também chamada de cervicalgia, é a dor localizada na região da coluna vertebral logo abaixo da cabeça, chamada de coluna cervical.

Quais as causas de cervicalgia ou dor no pescoço?

Esse tipo de dor é um sintoma comum causado por diferentes lesões e condições médicas diferentes, como fatores mecânicos, traumáticos, degenerativos, neurológicos, psicológicos e ocupacionais.

Fatores mecânicos são frequentemente associados a posturas inadequadas, uso impróprio de travesseiros, e falta de exercício. Estudos indicam que a má postura ao sentar-se, o uso prolongado de dispositivos eletrônicos e a inclinação prolongada da cabeça são fatores de risco significativos para a dor cervical. Além disso, a dor pode ser originada de estruturas anatômicas como articulações facetárias, discos intervertebrais, músculos e ligamentos.

Traumatismos, como lesões por acidentes automobilísticos e quedas (por exemplo, lesão por chicote), também são causas comuns de dor cervical. Essas lesões podem resultar em dor aguda e, em alguns casos, evoluir para dor crônica. A história de traumas prévios no pescoço e ombros é um fator de risco importante.

Alterações degenerativas, como espondilose cervical e hérnia de disco, são causas frequentes de dor cervical, especialmente em pessoas mais idosas. Essas condições podem levar à compressão de uma raiz nervosa ou da medula espinhal, resultando em sintomas neurológicos além da dor.

Condições neurológicas e outras: a dor no pescoço pode ser um sintoma de doenças neurológicas, como tumores e doenças infecciosas/inflamatórias do sistema nervoso, ou ainda ser causada por doenças metabólicas e de outras estruturas localizadas na região do pescoço, como esôfago, traqueia, faringe, laringe.

Fatores psicológicos, como estresse, ansiedade e depressão, também desempenham um papel significativo na etiologia da dor cervical. Estudos mostram que o estresse prolongado, a falta de suporte social e problemas emocionais estão associados a um aumento na prevalência de dor cervical.

Fatores ocupacionais, incluindo demandas físicas no trabalho, como trabalhar com os braços levantados acima do nível dos ombros, e fatores psicossociais, como conflitos de papel e baixa autonomia no trabalho, também são importantes preditores de dor cervical.

Em resumo, a dor cervical é uma condição multifatorial que pode resultar de uma combinação de fatores mecânicos, traumáticos, degenerativos, psicológicos e ocupacionais. A avaliação e o manejo eficazes requerem uma abordagem abrangente que considere todos esses aspectos.

Quais os tipos de cervicalgia ou dor no pescoço?

A dor cervical pode ser classificada em diferentes tipos, com base em características clínicas como tempo de início, irradiação e natureza dos sintomas. Além disso ela pode ser parte de um quadro de dor regional ou generalizada, como observado em estudos populacionais, onde a dor cervical é frequentemente associada a dor em outras regiões do corpo.

A cervicalgia pode ser do tipo axial (sentida principalmente no pescoço) ou ainda do tipo radicular (dor que dispara para outras áreas, como ombros ou braços), também chamada de cervicobraquialgia. Também pode existir uma condição chamada de cefaleia cervicogênica, que é a dor de cabeça causada por disfunções nas estruturas cervicais, como as articulações atlanto-occipital e atlantoaxial, e compressão de nervos cervicais mais altos.

Na classificação cronológica pode-se dividir em cervicalgia aguda (com duração de dias a seis semanas) ou crônica (com duração superior a três meses). A dor cervical crônica afeta mais de 30% da população adulta e muitas vezes está associada a alterações degenerativas da coluna cervical, chamada de espondilose cervical. Essas alterações se desenvolvem lentamente durante a vida do paciente e são mais frequentes após a terceira década de vida. Com o envelhecimento natural todas as pessoas terão algum grau de degeneração da coluna cervical, sendo importante buscar atendimento médico especializado em caso de algum sinal ou sintoma de alarme.
As principais alterações que levam ao aparecimento da espondilose cervical são: o crescimento de osteófitos (crescimento anormal de partes ósseas da coluna), hipertrofia da articulação facetária (aumento do tamanho da articulação das vértebras da coluna), degeneração discal (desidratação do disco intervertebral, hérnia de disco, diminuição da altura do disco). Essas alterações podem resultar em uma variedade de sintomas, como dor cervical axial, dores de cabeça, rigidez. A maioria dos sintomas irá resolver com o tempo, porém alguns pacientes não melhoram e podem necessitar de tratamento específico.

Como prevenir a ocorrência de cervicalgia ou dor no pescoço?

 A prevenção da dor cervical pode ser feita principalmente pela realização de exercícios físicos e correções posturais. Estudos indicam que programas de exercícios são eficazes na redução do risco de novos episódios de dor cervical. A evidência sugere que exercícios podem reduzir a probabilidade de dor cervical em curto prazo (até 12 meses).

Além disso, os fatores de risco psicossociais e físicos devem ser considerados. Fatores como postura inadequada, uso prolongado de dispositivos eletrônicos, falta de atividade física, longos períodos na mesma posição e carregar peso de forma inadequada são associados ao aumento do risco de dor cervical. Portanto, intervenções que promovam a atividade física regular, correção postural, intervalos de descanso e intercalar frequentemente posição sentado/em pé pode ser benéficas.
A modificação do ambiente de trabalho, como o uso de cadeiras e mesas ergonômicas, também pode ajudar na prevenção. Pessoas que viajam ou trabalham muitas horas seguidas em posição sentada podem tentar fazer intervalos para que se fique na posição em pé, isso também pode contribuir para prevenir a cervicalgia. Além disso, identificar e abordar fatores de risco psicossociais, como estresse e problemas emocionais, pode ser igualmente importante.

Como é feito o diagnóstico e investigação de cervicalgia ou dor no pescoço?

O diagnóstico da dor cervical envolve uma abordagem médica sistemática que inclui a história clínica, exame físico e, quando necessário, exames de imagem e testes neurofisiológicos.

História Clínica e Exame Físico: A história clínica detalhada é fundamental para identificar a cronologia, o tipo de dor, as características, os fatores de melhora e piora, além de possíveis sinais de alerta (“red flags”) que podem indicar doenças mais graves, como mielopatia (doença na medula espinhal), escorregamento entre as vértebras (listeses, subluxações) ou doenças oncológicas, entre outras. O exame físico complementa a história, com o neurocirurgião realizando testes de força, sensibilidade, reflexos, manobras cervicais específicas, entre outras abordagens. A avaliação do movimento, status funcional dos músculos do pescoço e ombro, e a palpação dos tecidos moles e estruturas ósseas devem ser realizados.

Exames de Imagem: O raio-x pode ser usado para avaliação da estrutura óssea da coluna, também para pesquisar possíveis instabilidades. A tomografia computadorizada (TC) é preferida principalmente para se observar a estrutura óssea da coluna cervical, como nos casos de traumatismos (acidentes), enquanto a ressonância magnética (RM) é indicada para visualização dos discos intervertebrais, ligamentos, músculos, raízes nervosas, nervos, plexos e medula espinhal.

Radiografia da coluna cervical, com vértebras cervicais identificadas.

3. Testes Neurofisiológicos: A eletromiografia pode ser útil para diagnosticar síndromes de compressão nervosa, especialmente quando há fraqueza muscular que não correlaciona com os achados clínicos.
4. Questionários de Autoavaliação: Ferramentas de autoavaliação confiáveis e válidas são úteis para monitorar a dor, função, incapacidade e status psicossocial dos pacientes.
A abordagem diagnóstica deve ser adaptada ao contexto clínico individual, considerando a história médica completa e exame físico de cada paciente.

Quais os tratamentos para cervicalgia ou dor no pescoço?

A dor no pescoço pode interferir nas atividades diárias e reduzir a qualidade de vida se não for tratada. Felizmente a maioria das causas de dor no pescoço não são graves e melhoram com tratamentos conservadores, como fisioterapia, exercícios de fortalecimento e alongamento, controle do estresse, uso de medicamentos para dor. Ainda pode ser necessário o tratamento com injeções de anti-inflamatórios e anestésicos em determinadas regiões da coluna cervical. A imobilização com colar cervical pode diminuir a dor temporariamente, mas não deve ser usada por períodos prolongados. Em casos específicos, e após avaliação de um neurocirurgião/cirurgião de coluna, alguns pacientes podem necessitar de tratamentos cirúrgicos.

1. Exercícios e Fisioterapia: Exercícios de fortalecimento e controle motor são eficazes para reduzir a dor e a incapacidade em pacientes com dor cervical crônica. A fisioterapia, o pilates e exercícios de relaxamento também são importantes para o controle da dor cervical, especialmente em casos de dor crônica não específica e quando são realizados exercícios supervisionados por profissionais capacitados.

2. Acupuntura: A literatura médica atual sugere que a acupuntura pode ser eficaz na redução da intensidade da dor e na melhoria da funcionalidade em pacientes com dor cervical crônica, com melhorias significativas nos escores de dor e no índice de incapacidade do pescoço após quatro semanas de tratamento.

3. Medicamentos: Relaxantes musculares e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são eficazes para dor cervical aguda. Além desses medicamentos os analgésicos comuns podem ajudar os pacientes que sofrem com dores no pescoço. Para o tratamento de cervicalgia crônica outras classes de medicamentos podem ser empregadas, como antidepressivos, neuromoduladores, ansiolíticos, anticonvulsivantes. Procure um médico antes de tomar medicações para controle de dor cervical.

4. Uso de Colar Cervical: O uso de colares cervicais para dor no pescoço é um tema debatido na literatura médica. A eficácia dos colares cervicais, especialmente em condições como lesão por traumatismos e radiculopatia cervical, varia conforme o contexto clínico. É fundamental consultar um especialista na área antes de usar um colar cervical.

5. Intervenções Invasivas: Para dor causada por lesões e alterações da coluna cervical (como hérnias, artroses, degeneração articular etc.) injeções de corticosteroides e anestésicos podem proporcionar alívio sintomático a curto e médio prazo. Alguns pacientes podem apresentar doenças que necessitam de tratamentos cirúrgicos mais invasivos, sendo importante nesses casos ser avaliado por um especialista na área, como um Neurocirurgião.

6. Educação e Autogestão: Intervenções que incluem educação sobre autogestão e promoção da autoeficácia são componentes importantes do tratamento, especialmente para prevenir a cronicidade.

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